O cenário de uma guerra de subsídios entre nações ricas e emergentes para estimular a retomada do crescimento econômico pode levar a um aumento de casos de corrupção, dizem especialistas ouvidos pela BBC Brasil na 14ª Conferência Internacional Anti-Corrupção (IACC), que teve início nesta quarta-feira em Bangcoc, na Tailândia.
Segundo participantes do encontro bienal, a desvalorização de moedas e a dependência de pacotes de estímulos para retomar o crescimento econômico podem favorecer o fechamento de acordos irregulares e a obtenção de lucro especulativo obscuro, além de não resolver a questão econômica no longo prazo.
Além de ter ganhado destaque na conferência anti-corrupção, a questão da guerra cambial deve ser um dos principais assuntos do encontro da cúpula do G20, que começa amanhã, em Seul, na Coreia do Sul.
Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) anunciou que iria injetar US$ 600 bilhões na economia dos Estados Unidos por meio da compra de títulos públicos, o que levará à desvalorização do dólar.
Competição
"Em meio à desvalorização das moedas há uma busca por maior competição e isso invariavelmente leva a mais corrupção, pois há uma ânsia por estimular as economias a qualquer custo. Isso é da natureza do processo", diz Pedro Gomes Pereira, pesquisador do Instituto de Governância de Basileia, na Suíça.
Para Françoise Valerian, chefe de projetos do setor privado na ONG Transparência Internacional, o ambiente competitivo também abre espaço para a corrupção.
"Os governos estão sob pressão para melhorar a situação. As corporações estão sob pressão para fazer lucro. Elas são tentadas a conseguir fechar contratos, ainda que isso envolva o pagamento de propinas", diz Valerian.
Segundo Gomes Pereira, no caso do Brasil, um claro exemplo de corrupção causado por estímulos à economia são as licitações emergenciais em projetos de infra-estrutura.
"Esses projetos geram empregos e estimulam a economia, mas o problema são as licitações. Ainda que elas aconteçam dentro de um processo supostamente transparente e correto, invariavelmente podem vir a ser fraudadas", diz o pesquisador.
Outra fragilidade é o lucro obtido por partes associadas ao governo que conseguem ter acesso a informação privilegiada.
"Sabendo de antemão das medidas estatais que serão anunciadas, oficiais do governo lucram com apostas no mercado financeiro, enquanto a grande maioria da população é prejudicada", afirma Valerian.
"O favorecimento de poucos realmente acontece. Veja por exemplo os casos de desvalorização cambial no Brasil dos anos 80 e 90, foi assim", diz Gomes Pereira.
Recuperação
A guerra de subsídios entre nações afeta também a recuperação da economia mundial no longo prazo, afirmam os especialistas.
"Esse debate sobre a questão cambial como está na agenda do encontro do G20 poderá direcionar a atenção dos países a uma guerra de medidas paliativas que não resolvem a verdadeira causa do problema", afirma Valerian.
"Está emergindo a ideia de uma maior participação do governo no estímulo dos mercados. Com isso há uma busca por uma melhor governância dos recursos. É a crescente necessidade de se avaliar o bom uso de investimentos estatais que importa. Isso é, o combate à corrupção", afirma Phil Matsheza, analista do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP).
"No G20 o que falta justamente são propostas de maior regulamentação dos mercados e nesse contexto o combate à corrupção é fundamental", diz Valerian. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
Fonte - Estadão
Segundo participantes do encontro bienal, a desvalorização de moedas e a dependência de pacotes de estímulos para retomar o crescimento econômico podem favorecer o fechamento de acordos irregulares e a obtenção de lucro especulativo obscuro, além de não resolver a questão econômica no longo prazo.
Além de ter ganhado destaque na conferência anti-corrupção, a questão da guerra cambial deve ser um dos principais assuntos do encontro da cúpula do G20, que começa amanhã, em Seul, na Coreia do Sul.
Na semana passada, o Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) anunciou que iria injetar US$ 600 bilhões na economia dos Estados Unidos por meio da compra de títulos públicos, o que levará à desvalorização do dólar.
Competição
"Em meio à desvalorização das moedas há uma busca por maior competição e isso invariavelmente leva a mais corrupção, pois há uma ânsia por estimular as economias a qualquer custo. Isso é da natureza do processo", diz Pedro Gomes Pereira, pesquisador do Instituto de Governância de Basileia, na Suíça.
Para Françoise Valerian, chefe de projetos do setor privado na ONG Transparência Internacional, o ambiente competitivo também abre espaço para a corrupção.
"Os governos estão sob pressão para melhorar a situação. As corporações estão sob pressão para fazer lucro. Elas são tentadas a conseguir fechar contratos, ainda que isso envolva o pagamento de propinas", diz Valerian.
Segundo Gomes Pereira, no caso do Brasil, um claro exemplo de corrupção causado por estímulos à economia são as licitações emergenciais em projetos de infra-estrutura.
"Esses projetos geram empregos e estimulam a economia, mas o problema são as licitações. Ainda que elas aconteçam dentro de um processo supostamente transparente e correto, invariavelmente podem vir a ser fraudadas", diz o pesquisador.
Outra fragilidade é o lucro obtido por partes associadas ao governo que conseguem ter acesso a informação privilegiada.
"Sabendo de antemão das medidas estatais que serão anunciadas, oficiais do governo lucram com apostas no mercado financeiro, enquanto a grande maioria da população é prejudicada", afirma Valerian.
"O favorecimento de poucos realmente acontece. Veja por exemplo os casos de desvalorização cambial no Brasil dos anos 80 e 90, foi assim", diz Gomes Pereira.
Recuperação
A guerra de subsídios entre nações afeta também a recuperação da economia mundial no longo prazo, afirmam os especialistas.
"Esse debate sobre a questão cambial como está na agenda do encontro do G20 poderá direcionar a atenção dos países a uma guerra de medidas paliativas que não resolvem a verdadeira causa do problema", afirma Valerian.
"Está emergindo a ideia de uma maior participação do governo no estímulo dos mercados. Com isso há uma busca por uma melhor governância dos recursos. É a crescente necessidade de se avaliar o bom uso de investimentos estatais que importa. Isso é, o combate à corrupção", afirma Phil Matsheza, analista do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP).
"No G20 o que falta justamente são propostas de maior regulamentação dos mercados e nesse contexto o combate à corrupção é fundamental", diz Valerian. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
Fonte - Estadão
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