Não precisamos de mais auto-estradas. Já não eram necessárias no passado recente. Ainda são mais irracionais hoje, face às dívidas que já temos de pagar no futuro. Muitos portugueses já têm consciência que a política do betão traz hoje mais custos que benefícios. O líder da bancada social-democrata escolheu como tema para o seu discurso do 25 de Abril o o investimento público, manifestando preocupações com o futuro e criando o lema "Libertar o Futuro". Nem todo o investimento público tem mais custos que benefícios e há intervenções que são muito importantes para o país. Mas Paulo Rangel tem razão se alerta para o desperdício, de recursos financeiros hoje muito escassos, que constitui o investimento em mais auto-estradas.É preciso ter coragem de dizer que Trás-os-Montes não precisa de uma auto-estrada. Não se pode justificar a construção de uma estrada com os custos que tem uma auto-estrada só questionando: Acha justo que Trás-os Montes seja a única região que não tem uma auto-estrada? Trás-os-Montes como o Alentejo e outras regiões não possuem também muitas outras infra-estruturas exactamente porque não se justifica que as tenham.O que Trás-os-Montes e muitas regiões do país precisam é que se melhorem a qualidade e segurança rodoviárias do que já têm. E que se melhorem as ligações entre pequenas cidades, vilas e aldeias usadas todos os dias pelas pessoas, em vez de gastar rios de dinheiro para meia dúzia de carros andarem mais depressa. E ainda que se reforce em quantidade e qualidade a rede de transportes públicos, a começar, quando existe, o caminho de ferro. Quando hoje se anda pelo País tomamos consciência da marca de novo-riquismo do investimento público em auto-estradas. Ao lado de vias rápidas, com uma sofisticação que por vezes não encontramos nos países ricos, estão estradas que ligam centros urbanos completamente esburacadas e sem os sinais mínimos de segurança. São as estradas que já temos que é preciso melhorar, como aquilo que se está a fazer no Algarve. Claro que é mais fácil para um Governo lançar um grande projecto, do que organizar intervenções em estradas em que estão envolvidos múltiplos responsáveis. Claro que o sector da construção prefere um grande projecto, que continue a garantir o seu sobredimensionamento. Mas estas escolhas fáceis e com visão de curto prazo ameaçam seriamente o nosso futuro colectivo. O Primeiro-Ministro não referiu as estradas na lista de investimentos estratégicos que citou na entrevista à RTP. Esperemos que não tenha sido um esquecimento mas sim uma reorientação política, nem que seja justificada pelos novos condicionalismos que o país enfrenta com esta crise. O que hoje se consegue prever é um futuro em que todos vamos ter de reduzir o nosso nível de vida, um futuro que não sabemos quão longo será. Tem actualmente condições para durar muito mais tempo do que a crise internacional. E uns vão viver bastante pior que outros. Todos, com especial relevo para o Estado, têm de se adaptar às novas circunstâncias e devem preparar-se para elas. Preparar um futuro melhor hoje é cortar em quase tudo o que signifique pagar mais tarde o que se constrói ou compra hoje. Os investimentos públicos que não podem ser pagos hoje têm de garantir, sem qualquer margem para dúvida, mais rendimento no futuro. Educação, que melhore a qualidade do ensino, e energia, que reduza o consumo de petróleo, são os projectos prioritários que garantem um futuro melhor. É preciso "libertar o futuro", diz Paulo Rangel. É preciso, ao mesmo tempo, melhorar o futuro.
Artigo de Helena Garrido aqui.
Debate entre Paulo Rangel e Marinho Pinto
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O homem é um animal político (Aristóteles) e, como tal, não pode viver
senão em sociedade. Por isso mesmo, já se exarou, acertadamente, a máxima a
um tempo...
Há 13 anos
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