Manuel Caldeira Cabral
«As recentes alterações ao funcionamento do mercado dos medicamentos deviam ter dado mais poder ao doente, mas estão a transferir a decisão dos médicos para os farmacêuticos, que vão aproveitar esta nova oportunidade para...
As recentes alterações ao funcionamento do mercado dos medicamentos deviam ter dado mais poder ao doente, mas estão a transferir a decisão dos médicos para os farmacêuticos, que vão aproveitar esta nova oportunidade para acrescentar lucros aos seus já milionários lucros. É fundamental garantir mais concorrência e transparência nas farmácias para evitar abusos, onde os grandes penalizados estão a ser os consumidores.Médicos e farmacêuticos estão em guerra. Uma guerra pelo controlo de decisão sobre o medicamento. Esta batalha, travada entre argumentos clínicos e acusações de suborno, é na prática uma luta pelo controlo de um mercado de 3,5 mil milhões de euros.Os medicamentos constituem um caso clássico de uma falha de mercado originada pelo facto de o decisor não ser o pagador do produto. Tradicionalmente quem decide o medicamento a tomar é o médico, e quem o paga é o doente e o Estado. Mesmo no melhor dos mundos, como não é o médico a pagar, dificilmente teria suficientemente em conta os custos. No mundo real, demasiados médicos escolhem medicamentos que outros pagam, "vendendo" essas decisões a troco de viagens e outras benesses dadas por laboratórios.Ou seja, o poder de decisão cria uma renda. A imoralidade de muitos médicos, que não hesitam em prescrever medicamentos muito mais caros que alternativas de igual interesse terapêutico, mesmo a pessoas de baixos rendimentos, faz com que muitos laboratórios gastem mais recursos a seduzir os médicos, dedicando menos recursos à investigação de novos medicamentos ou a tentar reduzir os seus preços. O problema não é só português. Nos anos noventa, os gastos de marketing de muitas farmacêuticas subiram mais que os de investigação.O incentivo aos genéricos e a possibilidade do doente comprar um medicamento com base no princípio activo contribuem para retirar ao médico esta potencial renda, incentivando os laboratórios a concorrer pelo preço e pela inovação dos seus produtos.Hoje, o que parece ser a vontade das farmácias é que a decisão sobre que marca escolher seja cada vez mais dos seus funcionários, aproveitando esta oportunidade para alargar os seus lucros.Como? O princípio é simples. Se o farmacêutico pode escolher dar um produto diferente (com o mesmo princípio activo), é ele que ganha poder de decisão. E mais uma vez esta decisão cria uma renda e incentivos a que os laboratórios concorram não pelo preço, mas pela habilidade de aliciar quem tem o poder de escolher. Isto faz com que muitos laboratórios em vez de colocarem os seus genéricos ao menor preço possível, passando para o cliente (doente) os ganhos associados à obtenção do mesmo princípio activo a um custo menor, estão antes a passar maiores margens para as farmácias, pervertendo o princípio subjacente a estas alterações legais: permitir o acesso a medicamentos mais baratos.Mas como podem passar maiores margens se a margem é em muitos casos fixa? De uma maneira simples, fazendo promoções. Hoje muitos laboratórios "oferecem" caixas de medicamentos. As farmácias podem receber 100 caixas extra grátis por cada 100 que vendam. A farmácia pode vender uma caixa a 50 euros e ficar com uma margem de 10 euros, e vender a outra a 50 euros e ficar com mais 50 euros. Num caso destes, uma margem de 20% passa a uma margem de 60%. Uma margem fortíssima.Se alguma farmacêutica tentar uma estratégia de baixar o preço para metade (25 euros no exemplo acima), está a baixar a margem bruta da farmácia por caixa (que sendo 20% passaria a ser de apenas 5 euros), uma situação bem menos interessante para a farmácia. Neste caso, as farmácias vão fazer com que estas caixas saiam menos. O actual enquadramento, ao também colocar o farmacêutico como decisor, alterou completamente a estratégia dos laboratórios. Hoje têm de seduzir não só os médicos, mas também os farmacêuticos.No fim da linha, quem volta a ser prejudicado é o doente. Os genéricos trouxeram importantes benefícios em termos de redução dos preços, mas as reduções poderiam ir muito mais longe. No cenário que se está a desenhar, tudo indica que as futuras descidas de preço vão beneficiar mais as farmácias do que os clientes. E este alargar da margem das farmácias só acontece porque estas estão protegidas da concorrência, tendo desde há muitos anos lucros (chorudos) assegurados.Um trespasse de uma farmácia pode valer mais de um milhão de euros. Um valor revelador. No contexto de crise em que vivemos há muitas lojas em dificuldade ou a fechar este ano, e é quase inédito um farmácia encerrar. Imunes à crise, porque imunes à concorrência, porque protegidas por leis do condicionamento corporativo que vêm do Estado Novo e que ninguém se atreve a alterar. São estas leis que garantem a cada dono de farmácia o seu direito inalienável a ser rico. À custa de quem? Se esse milhão é uma renda de falta de concorrência, quem é que a paga? A resposta é óbvia, os milhares de clientes/doentes que diariamente se dirigem às farmácias.É urgente que se implemente mais concorrência neste sector, liberalizando a entrada. É também importante maior transparência nos balcões das farmácias. Quando sugerem um produto, os farmacêuticos deveriam ser obrigados a informar se existe outro mais barato com o mesmo princípio activo.»
Artigo e foto aqui.
O Sr. Prof. Dr. não me diga que também queria uma farmácia e não lhe deram, e o seu amigo que é médico também ficou chateado porque agora os laboratórios tem medo de lhe pagar viagens, carros, casas etc.
ResponderEliminarOlhe já agora o senhor Belmiro de azevedo não lhe chateia nada que conjuntamente com a jerónimo martins, cartelizem o mercado da distribuição destruindo o pequeno comércio, e explorem os produtores que não tem a quem vender e suportam os custos de impostos, perdas e quase nada recebem, porque tem pessoas como o senhor que lhe dão apoio, com os seus conhecimentos, a troco de um ordenado chorudo, para arranjar forma de gerir as empresas sem pagar impostos com subsidios e afins de forma a maximizar o lucro.
Ai jesus! porque quem tem uma farmácia é um milionário! vamos lá liberalizar, pois depois uma farmacia em cada esquina (hipermercado), ordenados de funcionários pequenissimos,sem pagamento de horas extra-ordinárias, com jovens em part-time e o lema é se venderes mais, maior é a comissão, e se não gostares vai embora porque já ali fora estão 500 jovens a espra da escravatura.
Há pois mas esses hipermercados não visam o lucro os seus donos não querem ser milionários, eles até nem exploram os empregados e nem enganam os clientes com promoções, descontões, cartões, e tudo mais que visa apenas vender mais e não melhor.
Ora quem não o conhecer que o compre...faça-se a vida e vá trabalhar e deixe algum para quem quem viver...não seja guloso.E se está tão chateado e é economista e o negócio é assim tão bom com a capacidade que tem de gerir compre uma farmácia e venha trabalhar para rentabilizar o seu euromilhões.
Ah pois.... se calhar criticar é mais fácil e mais lucrativo...